Sou cheia de curvas. Na verdade sou uma grande curva, que atrai olhares. Sim, atraio olhares quando me colocam em evidência.
Não tenho nada a esconder, mostro logo o meu interior. O que carrego por dentro, faz, frequentemente, homens e mulheres enrubescerem.
Tantas mãos me tocam, tantos lábios me tocam. E eu fico ali, de frente para eles e elas, vendo suas bochechas ficarem coradas, suas orelhas avermelharem-se, sua fala ficar apaixonada e seus pensamentos meio atrapalhados.
Nasci de um sopro (não de deus)(talvez de Baco) e de uma rodadinha.
Não tenho orelhas nem ouvidos, mas escuto cada coisa..
Minha boca é generosa, minha base é tão sólida quanto a do Bruce lee.
quem sou eu n.1
Não me aperte. Ou eu mordo.
Como um jacaré bocudo e banguela agarro a saia da donzela, e só solto se me colarem as orelhas.
Posso ser cara de pau,
Posso ser artificial como o plástico,
Mas sem minha mordida o que é seu não resiste ao vento, e você o perde.
Posso ser irrisório, mas para você um de mim não basta.
Como aos ovos você me quer às dúzias.
Sou paciente, fiel.
Não deixo suas intimidades caírem. Fico por horas com seus fundos na boca, sem dar um pio, (pois apesar de bicudo não sou ave)
Para depois você vir me beliscar.
Só assim largo o osso e descanso as mandíbulas quadradas.
Sou esguio e, sempre seminu, visto-me com economia.
Um simples cinto metálico me envolve a cintura em arabescos curvilíneos.
Mas sem ele me parto ao meio, fico de coração partido.
Quem sou eu?
A coisa
Tem uma forma tridimensional. Um poliedro, composto de vários retângulos. Pesa aproximadamente 500 g. Tem dois lado planos e quatro lados abaulados. Qualquer lado te recebe, te aceita. Está sempre aberto para novas ideias. É rígido e tem uma simplicidade que me atrai. É calmo e paciente. Dialoga com firmeza, mas com doçura. Se for jogado na água afunda, devido à sua densidade. Se lixar muito fica liso e pode até desaparecer. É pau para toda obra. Ipê. Serve para apoiar as mão de uma pessoa em sentido invertido. É bem rígido. Sua cor é marrom claro. Para pregá-lo deve-se utilizar parafuso, pois não aceita prego com facilidade. Aguenta tudo, sempre disposto a dar apoio. Para ser colado recomenda-se utilizar cola branca. Não tem coração. Precisa de um tratamento contra pragas. Não é único e pode ser reproduzido facilmente, embora não seja fácil de encontrar e não seja vendido em lojas. Por sorte, não precisa afirmar a sua existência. Não gosta muito de falar, mas escuta tudo como um amigo atencioso ou um psicanalista que te acolhe, te recebe, absorve tudo o que você tiver para dar e no final sorri. Inerte, só se move por impulsão.
Inércia
Fico pensando e observando as coisas, todas aquelas que habitam os espaços, as grandes e as pequenas, a geladeira, o alfinete ou uma almofada. Você já reparou na mania que elas tem de ficar ali paradas naquela inércia profunda? Aquela tarrachinha de brinco que cai no canto escondido da parede, ela fica lá parada esperando.
Fico imaginando se de repente elas se mexessem...
Que medo...
Glossário - 1. Pêndulo
Pêndulo é uma característica do movimento. Composto pelo balanço regular de uma estrutura presa em um ponto fixo, se caracteriza, na maioria das vezes, em uma relação de sedução do objeto para com o ser humano, por meio do truque da hipnose. Em uma dança repetitiva e regular, a oscilação do objeto provoca um total fascínio no observador que, fatalmente ludibriado, perde domínio dos seus atos em uma atitude passiva de obediência. Considerada a forma mais comum de controle dos seres humanos pelos objetos, tem sido utilizado desde a criação dos primeiros relógios, tendo sido aperfeiçoado por Galileu em 1641.
Pode ser simples, composto, invertido, mágico, hebreu, de theth, duplo. Pode ser feito de qualquer tipo de material. Vem sendo estudado pela física, pela radiestesia, pelo espiritismo, bruxaria, matemática, esportes radicais e em terapias sugestivas.
Como parte de uma geringonça, o pêndulo pode se comportar de diferentes maneiras, a depender da forma na qual se apresenta, podendo empurrar, furar, lançar ou conduzir outros objetos. Esses objetos podem se aproveitar da sua trajetória ou aceleração, o que resulta, por fim, em movimento.
Bjork e a televisão
As coisas estão aí. Um pouco mais ou menos presentes do que o necessário, com ou sem utilidade. O que sobra no mundo vira matéria de poesia.
Tem um certo orgulho em quem diz que não guarda coisas que não servem, que faz uma limpa mensal, que não suporta tranqueiras. Orgulho de só ter o necessário, o útil, mesmo que o maior esforço atual seja nos convencer da utilidade de certas coisas. Todas essas coisas as quais não podemos viver sem. Impossível não considerar a importância e utilidade de uma televisão.
Você não deveria deixar os poetas mentirem pra você.
Composição n.4 - Hasta la vista, baby!
Hoje é dia do circo. Hasta la vista, baby!
Ensaio n.1 | 27 de março | 19h | Espaço Pé Direito | Vila Telebrasília | Brasília | Brasil
Composição n.4 - Corridão
Hoje, logo mais às 19h faremos nosso primeiro ensaio aberto - Ensaio n.1 - no Espaço Pé Direito (Vila Telebrasília). Corre pra lá!
MANIFESTO COISISTA
Brasília, 27 de março de 2016
Elegemos Manuel de Barros como nosso poeta magno, o apóstolo único do movimento coisista, o nosso manual.
1. Nós queremos glorificar as coisas em detrimento do homem. A espontaneidade da inércia será um elemento essencial da nossa poesia
2. O circo evidenciou até hoje a proeza, a força e a flexibilidade dos corpos humanos. Nós queremos protagonizar o movimento incerto, autônomo e arriscado dos objetos
3. Nós afirmamos o que o antropocentrismo cênico ignorou até hoje: não há mais beleza em um mundo que ignora as coisas que aí estão. A força poética de uma coisa deve ser reverenciado no palco
4. É preciso sentir o movimento latente na imobilidade das coisas. O extraordinário do mundo se enriquece de uma nova beleza: a beleza da presença inerte do não movimento e do movimento passivos dos objetos em risco de descarte.
Domingo tem ensaio aberto
Preparamos algo para mostrar no nosso primeiro ensaio aberto, neste domingo de páscoa. O objetivo é colocar em cena os nossos experimentos e ter espaço para o olhar do público. Esperamos vocês lá!
Geringonça n.17 - Registro de Pesquisa
Sobre emoções
Consiste em trazer a tona o desejo e deixa-lo guiar no pouco tempo que se tem. A composição é simples, a vontade de mexer, o que tiver ao seu alcance, a soma das coisas que te movem. Sair da inércia e seguir um impulso, o medo é grande, me faltam mecanismos. O medo é grande mas já não me basta sigo movendo só tenho medo da inércia o resto é movimento.
Geringonça n.12 - Registro de Pesquisa
(MATÉRIA DE POESIA)
todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe a distância
servem para poesia.
Um homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia
Terreno de 10x20, sujo de mato - os que
nele gorjeiam, detritos semoventes, latas
servem para poesia.
Um chevrolé gosmento
coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia.
As coisas que não levam a nada
têm grande importância
Cada coisa ordinária é um elemento de estima.
O que se encontra em ninho de joão ferreira,
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura, servem demais para poesia.
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que voce não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros
serve como poesia.
(Manuel de Barros).
Tirinhas de Lucas Gehre
Geringonça n.3 - Registro de Pesquisa
todos os ensaios antes de hoje e hoje
[antes do carnaval]
Geringonça, engenhoca, traquitana.
Elemento imprevisível. Como dominar o aleatório, inesperado? > Risco. (desenvolver)
Corpo presente. conexão pela respiração, movimentação do ar. Abrir os poros.
Composição > sequência de acontecimentos que se desencadeiam em movimentos (maquete, desenho, etc)
Tensão entre corpos: corpo presente [PRESENÇA]
jogo ativo> pesquisar sobre isso
Porque simplificar se você pode complicar?
>um fim inútil
[sábado de carnaval]
corpo machucado
desfalque
estética do risco - "do corpo sacrificado ao corpo abandonado" > relacionar com o texto.
Goldberg Machine:
Escada --------------------------------------------------------------> garrafa d'água rolando (4 bebem)
[quinta-feira, grupo de estudos]
risco simbólico X risco real
vida em cena, morte convocada
* aprendizado do risco> descoberta: exploração do desequilíbrio. limite. controle, repetição
dominio: situações estáveis - ruptura. perigo=circo
hiperespecialização: virtuose: + improvisação e adaptação
* estética do risco - expressão pelo desequilíbrio
* composição da obra
grau de fragmentação do espetáculo
índice de estabilidade/equlíbrio
dramaturgia (teatral?)
*alternância entre estável/instável > estrutura cíclica do espaço e do tempo (dramaturgia do circo)
*arte do lixo
[reunião com o luiz]
sobre a ineficiência no mundo industrial, onde as máquinas foram criadas para substituir o ser humano, por serem mais eficientes.
Nesse sentido, as geringonças são uma ode ao ser humano.
sobre a inutilidade na sociedade de consumo. máquinas criadas para criar uma necessidade.
Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:
quando cheias de areia de formiga e musgo - elas
podem um dia milagrar de flores.
(Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.)
Também as latrinas desprezadas que servem para ter
grilos dentro - elas podem um dia milagrar violetas.
(Eu sou beato em violetas.)
Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!
(O abandono me protege.)
Manoel de Barros
Nesse sentido as geringonças não são desejadas, não atendem a nenhum anseio.
[quinta-feira]
corpo abandonado
(fotos)
[ensaio de terça que virou reunião]
o que fazer com tudo isso
[quinta, grupo de estudos]
> narrativas - linear ou não
acidentes
acaso no processo criativo
[sexta, sobre o ritmo]
[sábado, sobre a precisão]
precisão, segundo o google
substantivo feminino
1. falta de algo necessário ou útil. "tem p. de mantimentos"
2. necessidade imediata; urgência.
[terça-feira]
Levar objetos e apresentá-los. Tentei conectar, de alguma forma, com o trabalho de ritmo e dança que estamos desenvolvendo.
[sexta-feira, primeira semana de março]
composição > interação da geringonça com a figura humana
As coisas
Arnaldo Antunes / Gilberto Gil
As coisas têm peso,
massa, volume, tamanho,
tempo, forma, cor,
posição, textura, du-ração,
densidade, cheiro, valor.
Consistência, pro-fundi-dade,
contorno, temperatura,
função, aparência, preço,
destino, idade, sentido.
As coisas não têm paz.
Interação com o objeto, ser parte da máquina, engrenagem. O corpo como parte de um mecanismo inútil. Parte útil de um mecanismo inútil. Mecânica do corpo. Objeto como parte do corpo, orgânico. Implante.
[hoje]
reunindo todas as ideias > dança, manipulação de gente, manipulação objeto, jogo, ritmo
concentração
cuidado com o objeto, cuidado com a manipulação, cuidado com as transições.
ser máquina. funcionar.
Composição n.1
começamos (ou primeiro dia da metade do processo)
Na verdade começamos em fevereiro, mas as ideias estavam fervilhando na sala de ensaio e só agora chegamos aqui. Entre pesquisas de caminhos, possibilidades e referências, chegamos em algumas palavras-chave que estão nos guiando na pesquisa.
Inauguro aqui esse espaço coletivo de registro e troca de ideias, referencias e inspirações ao longo do processo. Vamos juntos?