Assum Preto
de Marco Motta
foto de João Saenger
Sinopse
Assum Preto é um espetáculo circense musical em que o artista brasileiro Marco Motta traz a sua pesquisa corporal original de contorção nos aparelhos aéreos em uma virtuose que transita entre as danças e músicas afro-diaspóricas. A criação foi inspirada em duas canções: a brasileira “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga & Humberto Teixeira, e a norte-americana “Blackbird”, de Nina Simone. Essa obra é uma expressão do poder da arte para além do eurocentrismo, a partir de uma história contada em primeira pessoa. O espetáculo incorpora a experiência do artista brasileiro radicado na Europa, colocando em cena como seu corpo é desumanizado nas esferas sociais e políticas entre os dois continentes.
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração do espetáculo: 50 minutos
"O racismo não ousa sair sem suas máscaras"" Frantz Fanon, psiquiatra, filósofo e escritor martinicano Em muitas expressões culturais, as máscaras são, ao invés de uma forma de se esconder, uma forma de se revelar. Uma vez colocada a máscara, a pessoa deixa de ser ela mesma e pode ser outra. Já no Brasil, o carnaval era a festa na qual os escravizados podiam, por alguns dias, ter a ilusão da liberdade. Durante essas celebrações, usavam máscaras feitas secretamente com materiais do cotidiano. Diz-se que muitos deles aproveitaram o anonimato que a máscara proporcionava, para fugir. Em Assum Preto, Marco se inspira nessa simbologia para dar vida a este célebre pássaro que tem sua vida de êxodo imortalizada pela voz de Luiz Gonzaga. A emigração também remete à própria formação cultural do Brasil, que recebeu em suas terras africanos escravizados expropriados da sua liberdade. O espetáculo foi criado a partir do conceito afrodiaspórico banzo, que vem da língua Kikongo, e significa “pensamento” ou “memória”. O banzo foi a nostalgia que afetou os negros escravizados no Brasil. As lembranças da terra natal e a falta de esperança na liberdade de levaram os negros escravizados à morte. Mas como é que o banzo afeta uma pessoa de ascendência africana no século XXI?
Sua corporeidade é uma resposta a essa pergunta. A pesquisa coreográfica de Marco Motta em Assum Preto é baseada em danças afro-diaspóricas contemporâneas, incluindo breakdance, capoeira, krump e house afro-brasileiros. Ele explora as possibilidades de realizar acrobacias com o corpo limitado (mãos atrás da cabeça ou pernas presas) que se traduzem na falta de liberdade, escrevendo esses limites coreograficamente. Da mesma forma, ele se apropria dos movimentos repetitivos e circulares que são utilizados na domesticação de animais cativos, aproveitando o paralelismo com a cena circular, formato característico dos palcos de circo, ou picadeiro. A partir desses dois princípios corporais, ele explicita formas de agir e se movimentar que fazem parte da realidade cotidiana dos negros em todo o mundo.
Ficha Técnica "Assum Preto"
Ideia original, criação, coreografia e interpretação: Marco Motta
Trilha Sonora Original: Yeison Moreno, Darío Santamaría, Marco Motta, Frank David Santiuste.
Músicos Intérpretes: J.G.Joshua, Felipe Fiuza, Lucas Rodrigues
Diretor de Arte, Cenário e Figurino: Julieta Michelon, Marco Motta, Abigail Motta, Ana Motta.
Desenho de Luz: João Dimas
Iluminação e Som: João Dimas e Euler Oliveira
Direção Técnica Contra-Regra: Daniel Lacourt
Fotografías: João Saenger
Assessoria e olhar externo: MADPAC Asociación de Profesionales, Artistas y Creadores de Circo de Madrid: Zenaida Alcalde, María Folguera e Gil Roberto Gomes de Almeida.
Africa Moment: António Tavares, Elizabete Bety, Aïda Colmenero Dïaz.
Produção: Gabriela Onanga
Produção Executiva e Difusão: Maíra Moraes e Julia Henning
Ce spetacle a été lauréat par l'Association Beaumarchais-SACD.
Realização: Coletivo Instrumento de Ver